As circunstâncias pediam por mudanças. Dividida entre a
vontade de ficar, e a necessidade de partir, o coração acatou ao chamado do
Vento Norte. Era preciso abandonar a zona de conforto. Mais do que sonhar,
chegava a hora de realizar todos os planos feitos até então. A ideia de
construir o futuro a manteve firme na decisão, muitas vezes, mais do que a
própria vontade. Resultado do conformismo ao qual dizemos sim todas as manhãs,
sem perceber.
Dentro
da mala, suas poucas coisas. Expectativa, insegurança, medo, sonhos,
vontade... Uma mistura de sensações e sentimentos que a faziam não querer
pensar, mas simplesmente fazer. Questionar demais sobre ser uma escolha
acertada ou não talvez a fizesse desistir.
Listou alguns daqueles que seriam seus primeiros objetivos a alcançar.
Deixou a cidade pequena do interior do Vale do Jequitinhonha onde nasceu, e seguiu, rumo
à capital mineira, buscando amadurecimento, crescimento, aprendizado,
conquistas.
Decisões são espelhos. De um lado, suas escolhas. No reflexo, renúncias.
Optou por abandonar a inércia, e traçar seu próprio caminho. Escolher seu
destino, definir a rota, caminhar com as próprias pernas.
Seu
filho ficou. Antes de sair, escreveu uma carta. Muito embora ele não soubesse
ler, aliviava o coração explicar a ele o motivo da separação temporária.
Carta Breve ao Meu Filho
Todo dia ao se
levantar,
não importa o pé que
toque o chão.
Nada vai mudar o seu
sorriso
se ele for de coração.
Pode ser que eu não
esteja lá,
mas ausência não é
sempre igual
Estarei distante por
não ter escolha,
não porque te quero
mal!
Quando eu parti
foi pra buscar lugar
ao sol.
Para construir
um lugar em meio a paz...
Se eu não conseguir,
filho, eu lhe peço
perdão!
Lembre-se:
Um sonho vale mais!
Depois
de dois anos e meio unidos como carne e unha, ela viajaria sozinha. Apertando contra
o peito uma foto de suas muitas viagens juntos, chorou. Prometeu construir o futuro, e voltar para buscá-lo.
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| (Foto: Arquivo Pessoal) |
Muita
coisa estava por vir daquele momento em diante...
(Texto: Mallê)
